Uma musa chamada
Cidade do Recife
Com mais uma mostra de pintura cujo tema é a gente, a paisagem, a fauna e a flora de nossa cidade, o artista plástico Romero de Andrade Lima encerra um ciclo de três exposições em homenagem a artistas que tiveram o Recife como fonte de inspiração para seus trabalhos. Os primeiros homenageados foram os poetas que cantaram o Recife em seus versos, no ano seguinte os músicos que fizeram o mesmo em suas canções, e agora os pintores que eternizaram as variadas faces da cidade ao longo desses cinco séculos.
O Recife tem o privilégio de possuir um grande acervo de imagens suas. Afora os registros dos desenhistas e mapeadores portugueses do século dezesseis, comuns a todas grandes cidades brasileiras, há em particular a série do período holandês que confere um olhar inédito e único sobre a cidade no século dezessete. No século dezoito, de novo, o registro lusitano de sua colônia. No dezenove, retorna o olhar estrangeiro com os viajantes que percorriam o império em busca do registro do belo, exótico e pitoresco para encantar os olhos dos europeus na volta. Alguns ficavam retratando em pinturas ovais as famílias abastadas da terra. É desse tempo que nasce a pintura de mão própria do lugar, que se afirmará independente no início do século vinte, com um pioneiro modernismo que se tornará permanente.
A rica lista começa pelo anônimo artista que em mapas traçava no mar corretíssimas linhas de guia para navegação e ao mesmo tempo povoava as águas e as terras com seres fantásticos.
Passa aos holandeses que vinham com um olhar limpo e claro, naturalista, sem fantasia, no estilo em que Post e Eckhout são nomes mais que conhecidos.
Do século dezoito, o quase desconhecido José Gonsalves da Fonseca deixa uma preciosa vista da cidade, única a apresentar a ponte do Recife com a sua série de pequenas lojas que conseguiram sobreviver até o fim do século dezenove. Deste século a lista é farta. W. Bassler registra o poço da panela. Rugendas em suas vistas do Brasil inclui uma venda dessas que têm de tudo nas esquinas do Recife. Daniel Berard, recifense, pinta as damas da sociedade e suas filhas. Eugênio Lassailly cobre as ricas paredes onde elas habitam com cenas neoclássicas. Na virada do século e do tempo há Henrique Eliot que pintou o Recife da 'bela época'. Na primeira metade do século vinte estão os que permanecem ligados a um impressionismo tardio como Fédora Monteiro e Mário Nunes. E há a vanguarda modernista como Vicente do Rego Monteiro e Cícero Dias; e até Tarsila do Amaral que chegando aqui de navio registrou em desenho o porto do Recife. Nesse mesmo tempo, mas em posição particular, há Henrique Moser que pintava e fazia vitrais, entre eles um que celebra março de 1817, a data do momento.
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